quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Jardim do poéta

Não me abandone...
Embora tenho estado tão calado, andando para longe, tentando esquecer meu passado coberto por um bosque;
E, quando o bosque fala, o passado está em sua voz...
Mas como vou abandonar o bosque para entrar numa floresta de concreto e aço, onde o mundo fala e a multidão está em sua voz?
A multidão é um monstro que pisa as procissões de milhares de rosas, e tenta sufocar a primavera.
Então eu volto para o bosque, porque não posso trair quem eu fui e que eu sou. Não há outra opção, senão fazer o meu jardim no meio do bosque, embora tenha que plantar sementes de flores sobre as flores recaídas e desbotadas que estavam sobre as covas onde jaziam minha mãe e meu pai.
Dalí vem minha triste inspiração. Por cima de corpos martirizados pela vida que o bosque esconde em seus lençois.
Mas de baixo suscitam demônios e de cima emergem anjos, todos entram pelo portal de meu jardim para passearem por ele, entre as rosas e as ervas daninhas; desde o desabrochar de uma flor pela mão de um anjo, até o desfolhar de pétalas pelo sopro de espíritos rebeldes.
Não há outra saída agora senão esperar a noite chegar e me conduzir até o gramado verde para Pôr-me a deitar e confeccionar as constelações do espaço cósmico e plantar sementes cintilantes de estrelas que ainda não existem com a certeza que um dia estarei num jardim de paz.

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